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10.8.10



Algo correu mal em S. Pedro do Sul




É uma triste sina esta de nunca conseguirmos apagar os nossos fogos mais fortes. Estes como outros...


Há um país a arder, como nas tragédias de 2003 e 2005. Este ano sobretudo no Norte (Viana do Castelo, Aveiro, Braga), pelo menos até agora e com uma capacidade de destruição perante a qual não vale a pena, para já, fazer muitas medições. São muitos milhares de hectares destruídos pelas chamas, muitas horas das vidas de pessoas consumidas pelo aproximar do fogo aos seus bens, muitas despesas para as corporações e para o Estado português.

Vemos as imagens de Moscovo e tudo nos parece terrível - como na Austrália noutros anos, como na Grécia, como em Espanha. Mas a 400 fogos por dia, cá na terrinha segundo as últimas contas, para um país tão pequeno, estamos de facto a bater recordes negativos e trágicos.

Temos também alguns bombeiros a ganhar um euro e setenta cêntimos - vai em letras para se perceber bem - à hora, segundo contam os jornais, e esses voluntários são considerados essenciais no início do combate. As corporações não conseguem pagar mais, mas claro que a ganhar tão pouco só mesmo por amor à camisola é possível combater qualquer fogo. E além do combate directo às chamas, os bombeiros têm ainda, muitos deles, trabalho de vigilância, que é fundamental para que as ignições não se tornem fogos desgovernados.

Há um país a arder, há menos bombeiros disponíveis este ano do que em 2009 (mas há mais viaturas) depois de muita chuva que criou mais material combustível. O ministro Rui Pereira esteve ontem em S. Pedro do Sul, onde lavrava um dos incêndios mais inquietantes e pediu um comportamento mais responsável a todos. É que estes fogos também nos interpelam como povo, pelos nossos hábitos diários ou sazonais, pela forma como abandonámos o Interior ou porque não nos associamos para haver capacidade de limpar o mato, de lhe dar uso efectivo e tornar mais difícil que aconteçam todos estes dramas. Com as altas temperaturas que se têm verificado, é impossível erradicar os fogos e mesmo os países mais desenvolvidos, de onde muitas vezes nos chegam grandes sentenças sobre o que fazer e não fazer, não conseguem evitá-los. E há indiscutivelmente negócios à volta dos fogos que convinha serem escrutinados.

Mas para já é claro que em S. Pedro do Sul falhou alguma coisa, faltou coordenação nos meios e muitos homens no terreno nem sempre é sinal de trabalho bem feito. O fogo começou sexta-feira na serra da Gralheira e continuava ao fim da tarde de ontem muito activo em várias frentes, com ordens para evacuar povoações, seguidas de contra- -ordens depois da reavaliação. Há bombeiros a queixarem-se, autarcas a dizer que há corpos de bombeiros que chegam e nem sabem para onde têm de ir apesar da boa vontade que mostram. Será cansaço ou será mais do que isso, mas a verdade é que a Gralheira já está muito calcinada. É uma triste sina esta de nunca conseguirmos apagar os nossos fogos mais fortes. Estes e outros...



por Manuel Queiroz , Publicado em 09 de Agosto de 2010